sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Leitura dinâmica



       
    Essa tão badalada novidade da leitura dinâmica é muito, muito antiga...
    Quem a inventou foi o vento, o único que sabe praticar de verdade. Inveterado leitor de tabuletas, ele não salta uma só que seja, não perde nenhuma delas. Lê e passa, que o seu destino é passar, mas guarda uma lembrança vertiginosa de todas, das vermelhas, das de azul mais forte, das verdes em todos os tons, sem esquecer, ó Van Gogh, as tabuletas amarelas...
     Porque a maior dor do vento é não ser colorido.
     Sabes?  Passa  no vento a alma  dos pintores mortos,  procurando captar,  levar (para onde?)  as cores deste mundo.
     Que este mundo pode ser que não preste, mas é tão bom de olhar!

Mario Quintana (Porta giratória, p 40)




Imagem: Vincent van Gogh ("A noite estrelada", 1889)

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