sábado, 13 de agosto de 2011

Canção de ballet

   

   Ele sozinho passeia
   Em seu palácio invisível.
   Linda moça risca um riso
   Por trás do muro de vidro.

   Risca e foge, num adejo.
   Ele pára, de alma tonta.
   Um beijo brota na ponta
   Do galho do seu desejo.

   E pouco a pouco se achegam.
   Põem a alma contra a palma.
   Mas o frio, o frio de vidro
   Lhe penetra a própria alma!

   "Ai do meu Reino Encantado,
   Se tudo aqui é impossível...
   Pra que palácio invisível
   Se o mundo está do outro lado?"

   E inda busca, de alma louca,
   Aquele lábio vermelho.
   Ai, o frio da própria boca!
   O amor é um beijo no espelho...

   Beija e cai, como um engonço,
   Todo desarticulado...
   Linda moça, como um sonho,
   Se dissipa do outro lado...


   Mario Quintana (Canções, p 45)





Citando Carlos Drummond de Andrade... 


A língua girava no céu da boca
  
A língua girava no céu da boca. Girava! Eram duas bocas, no céu único.
O sexo deprendera-se de sua fundação, errante imprimia-nos seus traços de cobre. Eu, ela, elaeu.
Os dois nos movíamos possuídos, trespassados, eleu. A posse não resultava de ação e doação, nem nos somava. Consumia-nos em piscina de aniquilamento. Soltos, fálus e vulva no espaço cristalino, vulva e fálus em fogo, em núpcia, emancipados de nós.
A custo nossos corpos, içados do gelatinoso jazigo, se restituíram à consciência. O sexo reintegrou-se. A vida repontou:  a vida menor.


Fonte: Projeto Releituras









Imagem: Gustav Klimt ("O beijo", 1907-08)
 

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