Ele sozinho passeia
Em seu palácio invisível.Linda moça risca um riso
Por trás do muro de vidro.
Risca e foge, num adejo.
Ele pára, de alma tonta.
Um beijo brota na ponta
Do galho do seu desejo.
E pouco a pouco se achegam.
Põem a alma contra a palma.
Mas o frio, o frio de vidro
Lhe penetra a própria alma!
"Ai do meu Reino Encantado,
Se tudo aqui é impossível...
Pra que palácio invisível
Se o mundo está do outro lado?"
E inda busca, de alma louca,
Aquele lábio vermelho.
Ai, o frio da própria boca!
O amor é um beijo no espelho...
Beija e cai, como um engonço,
Todo desarticulado...
Linda moça, como um sonho,
Se dissipa do outro lado...
Mario Quintana (Canções, p 45)
Citando Carlos Drummond de Andrade...
A língua girava no céu da boca
A língua girava no céu da boca. Girava! Eram duas bocas, no céu único.
O sexo deprendera-se de sua fundação, errante imprimia-nos seus traços de cobre. Eu, ela, elaeu.
Os dois nos movíamos possuídos, trespassados, eleu. A posse não resultava de ação e doação, nem nos somava. Consumia-nos em piscina de aniquilamento. Soltos, fálus e vulva no espaço cristalino, vulva e fálus em fogo, em núpcia, emancipados de nós.
A custo nossos corpos, içados do gelatinoso jazigo, se restituíram à consciência. O sexo reintegrou-se. A vida repontou: a vida menor.
Fonte: Projeto Releituras
Imagem: Gustav Klimt ("O beijo", 1907-08)
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