Eu sou um homem fechado.
O mundo me tornou egoísta e mau.
E a minha poesia é um vício triste,
Desesperado e solitário
Que eu faço tudo por abafar.
Mas tu apareceste com a tua boca fresca de madrugada,
Com o teu passo leve,
Com esses seus cabelos...
E o homem taciturno ficou imóvel, sem compreender nada, numa alegria atônita...
A súbita dolorosa alegria de um espantalho inútil
Aonde viessem pousar os passarinhos!
Mario Quintana (Canções, p 62)
Citando Fernando Pessoa...
(sob pseudônimo de Alberto Caeiro)
O pastor amoroso
O amor é uma companhia.
Já não sei andar só pelos caminhos,
Porque já não posso andar só.
Um pensamento visível faz-me andar mais depressa
E ver menos, e ao mesmo tempo gostar bem de ir vendo tudo.
Mesmo a ausência dela é uma cousa que está comigo.
E eu gosto tanto dela que não sei como a desejar.
Se a não vejo, imagino-a e sou forte como as árvores altas.
Mas se a vejo tremo, não sei o que é feito do que sinto na ausência dela.
Todo eu sou qualquer força que me abandona.
Toda a realidade olha para mim como um girassol com a cara dela no meio.
Toda a realidade olha para mim como um girassol com a cara dela no meio.
(10-7-1930)
Fonte: (O Eu profundo e os outros Eus. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1980. p 167)
Imagem: www.deviantart.com
"Eu era um homem fechado" mas só até conhecer Quintana! Gênio!
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