sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Extra-terrena

(para Cecília Meireles)




   Nós colhíamos flores de hastes muito longas
   E cujos nomes nem ao menos conhecíamos...
   E nem sequer, também, sabíamos os nossos nomes...
   E para quê, se um para o outro éramos Tu, apenas...
   Ou quem sabe se a morte nos houvera bordado numa tapeçaria
   A que o vento emprestasse a vida por um momento?
   E por isso os nossos gestos eram ondulantes como as plantas marinhas
   E as nossas palavras como suspensas no vento...

   Mario Quintana (Preparativos de viagem, pg 35)






Citando Cecília Meireles...



Uma flor voava


Uma flor voava.
Por mais que pareça impossível,
uma flor voava.
Uma flor amarela ia voando,
e levava ao lado o seu botão fechado.
Parecia uma jovem graciosa,
com sua bolsinha no braço.
Voava a flor amarela,
no ar indefinido.

E nuns troncos imensos,
muito grossos, muito altos,
uns troncos cheios de crepúsculo,
como colunas no céu,
sentinelas da vida,
nuns troncos muito escuros
iam pousando enormes borboletas flácidas,
amarelas e pretas,
que decerto pousavam para sempre,
sem rumo nem poder,
amarelas e pretas, muito sinistras,
muito flácidas, muito grandes.

E a pequena flor amarela voava,
solta, levíssima,
por um rumo secreto,
de alma evadida.




(Poesias Completas de Cecília Meireles, Volume XIII. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1979. p 127)


Imagem: www.weheartit.com

Nenhum comentário:

Postar um comentário