quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Lili



   Teu riso de vidro
   desce as escadas às cambalhotas
   e nem se quebra,
   Lili,
   meu fantasminha predileto!
   Não que tenhas morrido...
   Quem entra num poema não morre nunca
   (e tu entraste em muitos...)
   Muita gente até me pergunta
   quem és... De tão querida
   és talvez a minha irmã mais velha
   nos tempos em que eu nem havia nascido.
   És a Gabriela, a Liane, a Angelina... sei lá!
   És a Bruna em pequenina
   que eu desejaria acabar de criar.
   Talvez sejas apenas a minha infância!
   E que importa, enfim, se não existes...
   Tu vives tanto, Lili! E obrigado, menina,
   pelos nossos encontros, por esse carinho
   de filha que eu não tive...

   Mario Quintana (Esconderijos do tempo, p 78)




Citando Carlos Drummond de Andrade... 


O que viveu meia hora
  
Nascer para não viver
só para ocupar
estrito espaço numerado
ao sol-e-chuva
que meticulosamente vai delindo
o número
enquanto o nome vai-se autocorroendo
na terra, nos arquivos
na mente volúvel ou cansada
até que um dia
trilhões de milênios antes do Juízo Final
não reste em qualquer átomo
nada de uma hipótese de existência.




(Drummond frente e verso. Rio de Janeiro: Edições Alumbramento, 1989. p 75)





Imagem: www.weheartit.com

Nenhum comentário:

Postar um comentário