quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Poema datado

(para Armindo Trevisan)


Oh! este vento azul de primavera!
E o céu tão límpido, lá-alto...
Nem sei por que fui olhar para o chão.
Mas encontrei na rua um lápis verde,
Com borracha na ponta!
Para emendar fatais tolices, creio...
Mas não emendo, não...
Eu vou-as escrevendo
Tal como as dita o coração relapso!
Era ao sair da escola.
O azul era tão límpido
E só sei que meu vulto refletia-se
Não em claros arroios matinais
(que os não via)
Mas no cristal dos olhos das meninas
E neles se lavava este pecado
(venial)
De estar... não sei como vos diga... tão
Assim.
Lavava-se todo, todo o meu passado.
Passado? Que passado, meu Deus,
Nunca tive passado!
Enfim...
Não sei por que
Me sentia perdoado não sei de quê
Nesse
Dia
Maravilhoso
De setembro de 1957
Em que encontrei na rua um lápis verde
Para o bem de meus pecados!

Mario Quintana (A cor do invisível, p 77)

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