domingo, 14 de novembro de 2010

O Tempo




    O despertador é um objeto abjeto.
    Nele mora o Tempo. O Tempo não pode viver sem nós, para não parar.
    E todas as manhãs nos chama freneticamente como um velho paralítico a tocar a
                                                                                                     [campainha atroz.
    Nós
    é que vamos empurrando, dia a dia, sua cadeira de rodas.
    Nós, os seus escravos.
    Só os poetas
    os amantes
    os bêbados
    podem fugir
    por instantes
    ao Velho... Mas que raiva impotente dá no Velho
    quando encontra crianças a brincar de roda
    e não há outro jeito senão desviar delas a sua cadeira de rodas!

    Porque elas, simplesmente, o ignoram...

    Mario Quintana (Antologia Poética, p 89)








Imagem: Salvador Dalí ("A persistência da memória", 1931)

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