sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Elegia


    Há coisas que a gente não sabe nunca o que fazer com elas...
    Uma velhinha sozinha numa gare.
    Um sapato preto perdido do seu par: símbolo
    Da mais absoluta viuvez.
    As recordações das solteironas.
    Essas gravatas
    De um mau-gosto tocante
    Que nos dão as velhas tias.
    As velhas tias.
    Um novo parente que se descobre.
    A palavra "quincúncio".
    Esses pensamentos que nos chegam de súbito nas ocasiões mais impróprias.
    Um cachorro anônimo que resolve ir seguindo a gente pela madrugada na cidade deserta.
    Este poema, este pobre poema
    Sem fim...

    Mario Quintana (Antologia Poética, p 78) 

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