Da minha vida, o que eu me lembro
É uma
Sucessão de janelas fechadas
Nalgum país de sonho...
Apago-me, suponho,
Como as luzes de uma festa.
Ah! uma coisa resta,
Misterioso reflexo no escuro:
Teus lábios úmidos como frutos mordidos!
Mario Quintana (Preparativos de viagem, p. 131)
Citando Fernando Pessoa...
FOI UM momento
O em que pousaste
Sobre o meu braço,
Num movimento
Mais de cansaço
Que pensamento,
A tua mão
E a retiraste.
Senti ou não?
Não sei. Mas lembro
E sinto ainda
Qualquer memória
Fixa e corpórea
Onde pousaste
A mão que teve
Qualquer sentido
Incompreendido,
Mas tão de leve!...
Tudo isto é nada,
Mas numa estrada
Como é a vida
Há muita coisa
Incompreendida...
Sei eu se quando
A tua mão
Senti pousando
Sobre o meu braço,
E um pouco, um pouco,
No coração,
Não houve um ritmo
Novo no espaço?
Como se tu
Sem o querer,
Em mim tocasses
Para dizer
Qualquer mistério,
Súbito e etéreo,
que nem soubesses
Que tinha ser.
Assim a brisa
Nos ramos diz
Sem o saber
Uma imprecisa
Coisa feliz.
(Mensagem. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1981. p 228)
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Imagem: www.weheartit.com
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