"Dai-me a alegria / Do poema de cada dia. / E que ao longo do caminho / Às almas eu distribua / Minha porção de poesia" (Mario Quintana - A cor do invisível. São Paulo: Globo, 2005. p 142)
sábado, 29 de setembro de 2012
Brasa dormida
Da minha vida, o que eu me lembro
É uma
Sucessão de janelas fechadas
Nalgum país de sonho...
Apago-me, suponho,
Como as luzes de uma festa.
Ah! uma coisa resta,
Misterioso reflexo no escuro:
Teus lábios úmidos como frutos mordidos!
Mario Quintana (Preparativos de viagem, p. 131)
Citando Fernando Pessoa...
FOI UM momento O em que pousaste Sobre o meu braço, Num movimento Mais de cansaço Que pensamento, A tua mão E a retiraste. Senti ou não? Não sei. Mas lembro E sinto ainda Qualquer memória Fixa e corpórea Onde pousaste A mão que teve Qualquer sentido Incompreendido, Mas tão de leve!... Tudo isto é nada, Mas numa estrada Como é a vida Há muita coisa Incompreendida... Sei eu se quando A tua mão Senti pousando Sobre o meu braço, E um pouco, um pouco, No coração, Não houve um ritmo Novo no espaço? Como se tu Sem o querer, Em mim tocasses Para dizer Qualquer mistério, Súbito e etéreo, que nem soubesses Que tinha ser. Assim a brisa Nos ramos diz Sem o saber Uma imprecisa Coisa feliz.
(Mensagem. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1981. p 228)
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