domingo, 8 de julho de 2012

Um pé depois do outro




          Será do tempo? Será do quê? Os meus sapatos rincham, os meus sapatos cantam de alegria. E eu vou andando e aguardando cá de cima - que o seu oculto motivo chegue afinal até meu coração.

Mario Quintana (Caderno H, p 276)





Citando Cecília Meireles... 


Transformação do dançarino
  
Nasce da sombra o dançarino,
de um ovo de seda e mistério.
E seu perfil é transparente
e sua carne é a de um inseto.


E eu o amo como às borboletas,
à asa das libélulas, e erro
no seu mundo sem solo, reino
que se vai tornando sidéreo.


Suas tênues mãos nada tocam,
e olha entre verdes águas, cego.
Cada posição de seu corpo
é um símbolo instantâneo e hermético.


Toma nos lábios o silêncio
e é um peixe bebendo o mar, quieto.
Gira e, súbito se divide,
como espelho que cai de um prego.


(Poesias Completas de Cecília Meireles, Volume II. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1973. p 172)




 


Imagem: www.weheartit.com

2 comentários:

  1. Parabéns pelo blog.

    Uma belíssima homenagem ao maior poeta do Brasil (que me perdoem Manuel Bandeira, Drummond e outros poetas: são pequenos perto do Quintana)

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    1. Fico feliz...
      Os pés rincham e a poesia chega até o coração... :)

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