"Dai-me a alegria / Do poema de cada dia. / E que ao longo do caminho / Às almas eu distribua / Minha porção de poesia" (Mario Quintana - A cor do invisível. São Paulo: Globo, 2005. p 142)

domingo, 31 de julho de 2011
A viagem
Quando passei o Cabo das Tormentas
As sereias seguiram-me... E o seu canto
Nunca fora, meu Deus, tão aliciante...
Até acreditei, num breve instante,
Que por algum milagre a nau transviada
Viesse acaso sonâmbula voltando
Às praias luminosas da alvorada...
Mas ai de mim, esses enganos são
Pesadelos de luz! Antes o escuro, o sossegado
Sono...Mas uma voz: - Que dizes, nosso amor?
Ainda que nos escutes a teu lado,
Nós cantamos sempre no Futuro!
Mario Quintana (Preparativos de viagem, p 21)
Imagem: www.weheartit.com
sexta-feira, 29 de julho de 2011
Do espetáculo de si mesmo
Conhecer a si mesmo é inútil, parece,
Mas sempre diverte um pouco...
Coisa assim como um louco que tivesse
Consciência de que é louco.
Mario Quintana (Espelho mágico, p 38)
Imagem: www.weheartit.com
segunda-feira, 25 de julho de 2011
A voz
Mario Quintana (Caderno H, p 198)
Citando Florbela Espanca...
Ser poeta
Ser poeta é ser mais alto, é ser maior
Do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Aquém e de Além Dor!
É ter de mil desejos o esplendor
E não saber sequer que se deseja!
É ter cá dentro um astro que flameja,
É ter garras e asas de condor!
É ter fome, é ter sede de Infinito!
Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim.
É condensar o mundo num só grito!
E é amar-te, assim, perdidamente...
É seres alma, e sangue, e vida em mim
E dizê-lo cantando a toda gente!
Sonetos. Biblioteca Ulisseia de autores portugueses. p 106
Imagem: Florbela Espanca
sábado, 23 de julho de 2011
quinta-feira, 21 de julho de 2011
Amanhece
Um copo de cristal
Sobre a mesa
Inventa as cores todas do arco-íris...
Mario Quintana (A cor do invisível, p 134)
Imagem: www.deviantart.com
terça-feira, 19 de julho de 2011
Da mesma idade
A criança que brinca e o poeta que faz um poema
Estão ambos na mesma idade mágica!
Mario Quintana (Velório sem defunto, p 127)
Imagem: www.deviantart.com
segunda-feira, 18 de julho de 2011
Passeio
Oh! não há nada como um pé depois do outro!
Mario Quintana (Sapato florido, p 109)
Imagem: www.weheartit.com
sexta-feira, 15 de julho de 2011
Coisas enumeradas de um a trinta e cinco - XVIII
A voz do vento... Ninguém sabe o que o vento quer dizer... Quem me faz uma letra para a voz do vento?
Mario Quintana (Caderno H, p 210)
Imagem: www.weheartit.com
quarta-feira, 13 de julho de 2011
Viração
Voa um par de andorinhas, fazendo verão. E vem uma vontade de rasgar velhas cartas, velhos poemas, velhas contas recebidas. Vontade de mudar de camisa, por fora e por dentro... Vontade... para que esse pudor de certas palavras?... vontade de amar, simplesmente.
Mario Quintana (Sapato florido, p 57)
Imagem: www.deviantart.com
segunda-feira, 11 de julho de 2011
Bola de cristal
A praça, o coreto, o quiosque,
as primeiras leituras, os primeiros
versos
e aquelas paixões sem fim...
Todo um mundo submerso,
com suas vozes, seus passos, seus silêncios
- ai que saudade de mim!
Deixo-te, pobre menino, aí sozinho...
Que bom que nunca me viste
Como te estou vendo agora
- e é melhor que seja assim...
Deixo-te
com os teus sonhos de outrora, os teus livros queridos
e aquelas paixões sem fim!
e a praça... o coreto... o quiosque
onde compravas revistas...
Sonha, menino triste...
Sonha...
- só o teu sonho é que existe.
Mario Quintana (A cor do invisível, p 97)
Citando Manoel de Barros...
Eu tenho um ermo enorme dentro do olho. Por motivo do ermo não fui um menino peralta. Agora tenho saudade do que não fui. Acho que o que faço agora é o que não pude fazer na infância. Faço outro tipo de peraltagem. Quando era criança eu deveria pular muro do vizinho para catar goiaba. Mas não havia vizinho. Em vez de peraltagem eu fazia solidão. Brincava de fingir que pedra era lagarto. Que lata era navio. Que sabugo era um serzinho mal resolvido e igual a um filhote de gafanhoto. Cresci brincando no chão, entre formigas. De uma infância livre e sem comparamentos. Eu tinha mais comunhão com as coisas do que comparação. Porque se a gente fala a partir de ser criança, a gente faz comunhão: de um orvalho e sua aranha, de uma tarde e suas garças, de um pássaro e sua árvore. Então eu trago das minhas raízes crianceiras a visão comungante e oblíqua das coisas. Eu sei dizer sem pudor que o escuro me ilumina. É um paradoxo que ajuda a poesia e que eu falo sem pudor. Eu tenho que essa visão oblíqua vem de eu ter sido criança em algum lugar perdido onde havia transfusão da natureza e comunhão com ela. Era o menino e os bichinhos. Era o menino e o sol. O menino e o rio. Era o menino e as árvores.
Imagem: www.deviantart.com
quinta-feira, 7 de julho de 2011
Cântico
O vento verga as árvores, o vento clamoroso da aurora...
Tu vens precedida pelos vôos altos,
Pela marcha lenta das nuvens.
Tu vens do mar, comandando as frotas do Descobrimento!
Minh'alma é trêmula da revoada dos Arcanjos.
Eu escancaro amplamente as janelas.
Tu vens montada no claro touro da aurora.
Os clarins de ouro dos teus cabelos cantam na luz!
Mario Quintana (O aprendiz de feiticeiro, p 51)
Imagem: www.deviantart.com
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