quinta-feira, 30 de junho de 2011

Dia de chuva



   Dia de chuva
   É para a gente rasgar cartas antigas...
   Folhear lentamente um livro de poemas...
   Não escrever nenhum...

   Mario Quintana (Preparativos de viagem, p 135)







Imagem: www.weheartit.com

domingo, 26 de junho de 2011

Ingenuidade



     Mas que monótona não deveria ser a vida amorosa de Don Juan! Ele pensava que todas as mulheres eram iguais...

Mario Quintana (A vaca e o hipogrifo, p 247)








Imagem: Retrato de Pagu (meados de 1920)

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Germinal



   Planto
   com emoção
   este verso em teu coração.

   Mario Quintana (A vaca e o hipogrifo, p 213)







Imagem: www.deviantart.com

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Os elefantes




     - Os elefantes deveriam ser assinzinhos - diz Lili. Tomo nota, não pela idéia, que já deve ter ocorrido  utilitariamente a muitos, mas pelo "assinzinhos".
      E, na falta de um elefante doméstico, peço a ela que me traga um copo d'água.
     Só os novelistas e os seus personagens é que tomam uísque a cada página. Mas, por outro lado, não têm quem lhos traga. Eles próprios se servem.

Mario Quintana (A vaca e o hipogrifo, p 62)








Imagem: www.weheartit.com

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Cujas canções




     É costume cada um colocar sua profissão ou títulos nos cartões de visita.
     Ora,  quem escreve estas linhas já recebeu  alguns títulos da  generosidade de  seus conterrâneos;  escolher  um só seria indelicadeza com  os outros  proponentes.
     Quanto  a mim,  sempre  fui  de opinião  que  bastava  o  nome  da  pessoa,  sem  a vaidade  de  títulos secundários.  Mas eis que a minha camareira fez-me cair em tentação:  dá-se o caso que saiu a edição de meu livro Canções, ilustrado por Noêmia e que, ao ser noticiado por Nilo Tapecoara no "Bric-à-brac da Vida", este o publicou com o meu retrato em dua colunas, e, abaixo do mesmo, uma notícia que assim principiava, com a primeira linha impressa em letras maiúsculas:
     MARIO QUINTANA, CUJAS CANÇÕES etc. etc... Ora, na manhã daquele dia, ao servir-me o café na cama, sia Balbina não podia ocultar o orgulho que lhe causava o seu hóspede e repetia: 
     "Cujas canções, hein, cujas canções!"
     O seu maior respeito era devido, sem dúvida, à misteriosa palavra "cujas"...
     E  não  sei  se  resistirei  à idéia que me inspirou sia Balbina:  imprimir meu cartão de  visitas assim:

MARIO QUINTANA
Cujas Canções


Mario Quintana (Porta giratória, p 23)


Imagem: www.deviantart.com

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Exegese



     - Mas que quer dizer esse poema? - perguntou-me alarmada a boa senhora.
      - E que quer dizer uma nuvem? - retruquei triunfante.
      - Uma nuvem? - diz ela. - Uma nuvem umas vezes quer dizer chuva, outras vezes bom tempo...

Mario Quintana (Sapato florido, p 78)




Citando Fernando Pessoa... 


O guardador de rebanhos - XXIX
  
Nem sempre sou igual no que digo e escrevo.
Mudo, mas não mudo muito.
A cor das flores não é a mesma ao sol
De que quando uma nuvem passa
Ou quando entra a noite
E as flores são cor da sombra.

Mas quem olha bem vê que são as mesmas flores.
Por isso quando pareço não concordar comigo,
Reparem bem em mim:
Se estava virado para a direita,
Voltei-me agora para a esquerda,
Mas sou sempre eu, assente sobre os mesmos pés - 
O mesmo sempre, graças ao céu e à terra
E aos meus olhos e ouvidos atentos 
E à minha clara simplicidade de alma...

(O Eu profundo e os outros Eus. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1980.  p 155)




Imagem: www.deviantart.com

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Poeminha sentimental



   O meu amor, o meu amor, Maria
   É como um fio telegráfico da estrada
   Aonde vêm pousar as andorinhas...
   De vez em quando chega uma
   E canta
   (Não sei se as andorinhas cantam, mas vá lá!)
   Canta e vai-se embora
   Outra, nem isso,
   Mal chega, vai-se embora.
   A última que passou
   Limitou-se a fazer cocô
   No meu pobre fio de vida!
   No entanto, Maria, o meu amor é sempre o mesmo:
   As andorinhas é que mudam.

   Mario Quintana (Preparativos de viagem, p 59)









Imagem: www.deviantart.com

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Apenas


     O criador - seja ele um romancista, um cineasta, um pintor, um poeta - não cria coisa alguma. E num mundo onde todas as coisas já existiam, o verdadeiro criador se limita apenas a mostrar tudo aquilo que os outros olhavam sem ver.

Mario Quintana (Porta giratória, p 167)



Imagem: www.Fallen-Pearls.deviantart.com

sexta-feira, 10 de junho de 2011

O despertar dos amantes


   Quem teria deixado,
   Enquanto nos amávamos,
   O tarro de luz à nossa porta?

   Mario Quintana (Preparativos de viagem, p 67)










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segunda-feira, 6 de junho de 2011

O mundo do sonho



          O mundo do sonho é silencioso como o mundo submarino. Por isso é que faz bem sonhar.

Mario Quintana (Caderno H, p 63)







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domingo, 5 de junho de 2011

A saudade



   A saudade é o que faz as coisas pararem
   no Tempo.

     Mario Quintana (Preparativos de viagem, p 119)








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sábado, 4 de junho de 2011

Passarinho na tarde de sábado



   Como se fosse o primeiro passarinho do mundo
   Na primeira manhã do mundo,
   Voa e revoa
   Por cima do mundo, por cima de tudo,
   Por cima da praça modesta
   Onde velhinhos sentados
   Fazem um pouco de sesta.
   Voa e revoa, inquieto,
   Por cima da gente que passa
   Apressada,
   Por cima das árvores
   Por cima da estátua eqüestre
   Que está no meio da praça.
   Esvoaça,
   Esvoaça
   Alegre!
   Passarinho, eu te acho uma graça...
   Só uma coisa te peço, passarinho de minh'alma:
   Não me faças nenhum descuido em cima do cavalo da estátua!

   Mario Quintana (Preparativos de viagem, p 115)








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sexta-feira, 3 de junho de 2011

Haikai de outono


   Uma borboleta amarela?
   Ou uma folha seca
   Que se desprendeu e não quis tombar?

   Mario Quintana (Preparativos de viagem, p 133)



    Imagem: www.weheartit.com

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Inscrição para uma lareira



    A vida é um incêndio: nela
    dançamos, salamandras mágicas.
    Que importa restarem cinzas
    se a chama foi bela e alta?
    Em meio aos toros que desabam,
    cantemos a canção das chamas!

    Cantemos a canção da vida,
    na própria luz consumida...

    Mario Quintana (Esconderijos do tempo, p 77)








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